Epidemia de dengue em Ipupiara e Prado, Bahia. Inquérito soro-epidemiológico, Vasconcelos P.F.C; Mota K.; Straatmann A.; Torres S.S; Rosa A.P.A.T; Neto J.T., Rev. Soc. Bras. Med. Trop. v.33 n.1 Uberaba jan./fev. 2000
O primeiro registro de dengue no Estado da Bahia ocorreu em 1987, quando o sorotipo dengue 1 (DEN-1) foi identificado na epidemia em Ipupiara, cidade localizada na região da Chapada Diamantina do Estado. Esta epidemia foi isolada e circunscrita à zona urbana desse município, posto que medidas de contenção foram intensificadas, especialmente o combate ao vetor Aedes aegypti. Assim, essa epidemia foi controlada, não sendo registrado casos em municípios vizinhos. O presente trabalho focaliza o estudo soro-epidemiológico destes episódios ocorridos nos municípios de Ipupiara e Prado, especialmente porque ambas as localidades são cidades de pequeno porte e as pesquisas semelhantes, realizadas no Brasil, foram em populações de cidades de maior porte, geralmente grandes capitais.
O número estimado de infecções de dengue em Ipupiara de 460 casos (assintomáticos, oligossintomáticos ou sintomáticos), baseado na prevalência de soro-positivos de 11,9%, foi menor que o número notificado3 de doentes (n = 623) com diagnóstico clínico-epidemiológico. A explicação mais plausível para este fato seja que, durante a epidemia, muitos casos febris devidos a outras doenças infecciosas tenham sido notificados como dengue, pois naquela ocasião, uma equipe da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), foi deslocada para Ipupiara para ajudar no reconhecimento clínico de casos que, em seguida eram notificados como dengue (G Teixeira: comunicação pessoal, 1998). Em conseqüência, como aumentou o número de médicos e enfermeiros disponíveis, temporariamente, para o atendimento clínico e a busca ativa de casos, é possível o encontro de maior número de portadores com o diagnóstico clínico-epidemiológico de dengue, além, nessas condições, da população procurar mais a Unidade de Saúde local, pois na ocasião somente um médico residia em Ipupiara (MG Teixeira: comunicação pessoal, 1998).
Por outro lado, na mesma ocasião, entre a 6ª e 20ª semana epidemiológica de 1987, a Unidade de Saúde de Ipupiara notificou 422 casos clínicos de dengue, em lugar dos 623 registrados pela SESAB. Em ambas as fontes de registro, o pico da epidemia em Ipupiara ocorreu entre a 13ª e 14ª semana epidemiológica. Também, nesta mesma ocasião, a equipe de profissionais da SESAB selecionou 53 pessoas de Ipupiara com diagnóstico clínico-epidemiológico de dengue e o teste sorológico de enzima imuno ensaio para detecção de IgM (MAC ELISA)foi positivo em 13 (22,8%) indivíduos. Deste modo, pode-se especular que o diagnóstico clínico-epidemiológico não foi acertado em 77,2% dos casos suspeitos clinicamente. Por sua vez, os 422 casos notificados, por outra fonte, aproximou-se do número de casos estimados (n = 460) neste trabalho e, assim, considerando a freqüência elevada de infecção assintomática ou oligossintomática durante epidemias de dengue, é muito provável que entre os 422 indivíduos, muitos tiveram, verdadeiramente, outros quadros infecciosos.
Nas pequenas cidades, ao contrário, esses graves problemas urbanos são proporcionalmente menores e, provavelmente, as condições de proliferação do Ae. aegypti são mais desfavoráveis, bem como é menor o potencial de transmissão do vírus do dengue, pelo diminuto número de susceptíveis. Assim nas localidades com menor contingente populacional, como Ipupiara (11,9%) e Prado (17,5%), a prevalência da infecção pelo vírus do dengue tende a ser menor. Com efeito, tem sido observado que nas cidades pequenas, com população abaixo de 20.000 habitantes, os índices de infestação predial encontram-se com muita freqüência abaixo de 5%.
Finalmente, nas pequenas cidades, os locais que servem de criadouros (geralmente recipientes para armazenar água para consumo humano) para o Aedes aegypti são também diferentes daqueles de cidades grandes, onde o acúmulo de lixo costuma ter papel preponderante na manutenção dos níveis de infestação do vetor e transmissão de dengue.
As observações colhidas em Ipupiara e Prado podem ser úteis para elaboração de estratégias de controle e/ou planejamento, especialmente nas cidades brasileiras de porte semelhante, quando da introdução de outros sorotipos virais e, também, na estimativa da população sob risco de desenvolver a febre hemorrágica do dengue.
Parabéns amiga...
ResponderExcluirgostei bastante!